Portugal é um país pet friendly?

Nos últimos anos, temos assistido a uma transformação na forma como os animais de companhia são vistos e tratados em Portugal.  E ainda bem. Os números dizem que famílias com animais aumentou significativamente, isso também se deve à a legislação que evoluiu no sentido de proteger melhor os direitos dos animais de estimação, embora ainda haja um longo caminho a percorrer. Quem tem um animal de estimação percebe igualmente que os produtos e serviços dedicados ao bem-estar animal multiplicaram-se.

Mas será suficiente para considerarmos Portugal um país verdadeiramente pet friendly?

A resposta, como quase sempre, não é simples. Em muitos aspetos, Portugal tem dado passos importantes para se tornar num país petfriendly mas ainda há muito trabalho para fazer, avaliar por exemplo pelo número de animais abandonados todos os dias. Uma triste realidade que continua a ser “ignorada” pelo Governo e pela generalidade dos partidos políticos. O abandono dos animais deveria estar na agenda política e sobretudo a criminalização dos maus-tratos a animais deveria ser mais efetiva. Não se compreende esta realidade de uma pessoa abandonar um animal de estimação e não ser responsabilizada. Por outro lado, temos as associações que estão lotadas de animais que foram abandonados ou maltratados e com pouco ou sem apoio governamental. Apesar das campanhas de sensibilização e da crescente consciencialização, os números continuam alarmantes. Em 2023, mais de 40 mil animais foram recolhidos pelos centros de recolha oficial (CRO) em Portugal. A realidade é que o abandono continua a ser um reflexo de uma sociedade que ainda não reconhece os animais como membros efetivos da família. Infelizmente.

Apesar desta triste realidade, temos o outro lado da moeda que permite cada vez mais levar animais de estimação para determinadas esplanadas, restaurantes ou transportes públicos, e o surgimento de hotéis, parques e praias dedicadas aos animais de companhia mostram uma sociedade mais atenta e empática. Um bom começo que merece ser ampliado a nível nacional porque se o animal de estimação faz parte da família então deve acompanhar a família nas mais diversas atividades como por exemplo nas férias.  Um país pet friendly vai além da permissão de entrada de animais em espaços públicos. É, acima de tudo, um país onde o respeito, a inclusão e a responsabilidade são valores transversais — tanto para os tutores, como para as instituições e para a sociedade em geral. A nível urbano, por exemplo, muitas cidades portuguesas ainda não estão preparadas. Faltam zonas próprias para cães nos espaços verdes, bebedouros, dispensadores de sacos para dejetos ou sinalização clara sobre as regras de circulação com animais. Além disso, o acesso a edifícios públicos, transportes e até a arrendamento de habitação continua a ser um obstáculo para muitas pessoas com animais.

Neste contexto não podemos ignorar o papel das autarquias, empresas e iniciativas locais, que, com criatividade e empenho, estão a mudar o panorama. Projetos como parques caninos, campanhas de adoção, descontos em serviços veterinários ou a aposta em turismo pet friendly são exemplos de como podemos caminhar rumo a um país mais amigo dos animais.

No setor privado, o crescimento do mercado pet — desde alimentação premium até cuidados de saúde especializados — também revela uma mudança de mentalidade. Hoje, cuidar de um animal não é apenas alimentar e passear; é oferecer bem-estar, socialização e qualidade de vida. E dar amor.  Portugal está num ponto de viragem. Ainda não somos, na prática, um país totalmente pet friendly, mas estamos no caminho certo. Para lá chegarmos, é essencial que os tutores assumam o seu papel com responsabilidade, que as políticas públicas sejam mais inclusivas e que a sociedade, como um todo, perceba que ser pet friendly não é uma tendência — é um compromisso com o respeito, a convivência e a empatia.

 

Paula Monteiro

Tutora da cadela Amora e gato Abacate

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