Quando os clientes têm patas, as marcas precisam de ter coração!
Durante demasiado tempo, os animais de companhia foram vistos e tratados como um apêndice do lar, uma simpática nota de rodapé nas estratégias de marketing das marcas.Um nicho “fofinho”, mas marginal. Uma oportunidade que, por convenção ou desconhecimento, nunca foi verdadeiramente abraçada. Mas os tempos mudaram. E as marcas que ainda não se deram conta disso estão a perder uma oportunidade de ouro. Literalmente.
Hoje, os animais de estimação já não são apenas animais. São família. São filhos de quatro patas. São companheiros de vida, confidentes silenciosos, terapeutas afetivos, e muitas vezes o verdadeiro pilar emocional de quem os acolhe. Quem cuida de um animal não é apenas um “dono”, é um pai de pet. Esta mudança de paradigma emocional alterou por completo a forma como vivemos… e como consumimos. E sim, isto muda tudo.
A revolução pet não é apenas emocional, é económica, social e cultural. O mercado global de produtos e serviços para animais de companhia já ultrapassou os 300 mil milhões de dólares. Em Portugal, estima-se que este segmento represente mais de 100 milhões de euros, com um crescimento anual contínuo e acelerado. Segundo dados da Euromonitor e da Statista, o segmento pet care é dos mais dinâmicos dentro do setor do consumo, destacando-se a forte procura por: alimentação natural e premium; serviços veterinários de excelência; produtos de bem-estar físico e emocional; tecnologia (sim, já há wearables para cães e gatos) e experiências partilhadas entre tutores e animais, do pet sitting a spas e hotéis caninos.
E em Portugal? A tendência confirma-se. Cada vez mais famílias incluem animais no seu núcleo – muitas, inclusive, optam por não ter filhos humanos e constituem o que se designa hoje como famílias multiespécie. O gasto médio mensal com animais de companhia disparou nos últimos cinco anos. Já não se trata apenas de ração e coleira. Fala-se de fisioterapia veterinária, de alimentação biológica, de pastelarias gourmet, de brinquedos inteligentes, de seguros de saúde e de viagens pet friendly. Os animais já não ficam em casa, os animais fazem parte do plano.
Os consumidores mudaram. O marketing tem, obrigatoriamente, de acompanhar. Mas a questão impõe-se: estará o setor a evoluir ao ritmo das pessoas? Ou estamos a assistir ao mesmo tipo de campanhas, com o cãozinho fofo no final, mas sem qualquer verdadeira conexão emocional?
É aqui que o setor precisa de um abanão. De uma nova consciência. De um novo compromisso. Porque ainda há marcas que continuam a olhar para este segmento como decorativo, mas não estratégico. Que falam para o animal, mas esquecem a profundidade da relação entre o tutor e o seu companheiro. E ainda há quem veja os produtos para animais como uma extravagância, quando, para muitos consumidores, são uma prioridade de vida.
Este setor não é só promissor. É já um dos mais poderosos no que diz respeito à lealdade, à recorrência e à capacidade de gerar verdadeiro amor pela marca.
Basta observar os números:
- Mais de 80% dos tutores consideram os seus animais como membros da família;
- Cerca de 70% estão dispostos a pagar mais por produtos que garantam o bem-estar e a saúde dos seus companheiros;
- A decisão de compra de uma casa, de férias ou até de um automóvel é, em muitos casos, condicionada pelas necessidades do animal.
Ou seja, os consumidores não compram só para os seus pets, compram com os seus pets em mente. São decisões emocionais que impactam, de forma direta, o comportamento de consumo.
Enquanto umas marcas ainda tratam os tutores como “proprietários”, outras já perceberam que conquistar o coração de quem ama incondicionalmente é uma estratégia de fidelização imbatível. Mais do que pet friendly, é preciso ser pet committed. Não chega aceitar animais. É necessário acolhê-los com respeito, empatia e consciência.
É aqui que começa a nova era das marcas com alma.
Marcas que compreendem o valor afetivo profundo que existe nesta relação. Que desenham produtos com empatia, com propósito, com inovação verdadeira. Que comunicam sem clichés e que se preocupam com a experiência do consumidor pet lover até ao último detalhe.
E é aqui que surge um novo desafio e uma nova responsabilidade: reconhecer quem faz bem feito. Distinguir quem não só respeita este mercado, mas o eleva. Quem contribui para o bem-estar animal, para a sustentabilidade, para a educação dos tutores e para a construção de um ecossistema emocional e económico que transforma.
Porque inovar neste setor não é apenas lançar um snack diferente ou permitir animais numa esplanada. Inovar é compreender que estamos a falar de uma nova estrutura familiar, de uma nova linguagem emocional, de uma nova exigência ética. E que esta mudança merece mais do que simpatia, merece critério, exigência, rigor. E reconhecimento.
Talvez esteja mesmo na hora de dar palco às marcas, produtos e serviços que se destacam neste universo que já não é um nicho. É um movimento. Uma revolução silenciosa, mas irreversível. Uma revolução com patas. Sem clichés. Sem marketing barato. Mas com critério, com responsabilidade e, acima de tudo, com alma.
Porque quando os clientes têm patas, as marcas precisam de ter coração.
E as que tiverem coragem para o fazer… vão conquistar algo que nenhuma campanha paga consegue oferecer: amor incondicional.
José Borralho
Emotional Strategist